Perdi a conta do número de vezes que escrevi que o cerco se fecha em torno de Bolsonaro. Ou então que ele deu mais um tiro no próprio pé. Para não cansar você que me lê, prometo nunca mais repetir essas coisas. Mas que o cerco se fecha, é fato. E que Bolsonaro tem a mania de atirar no pé, também. (Acabo de esquecer a promessa que fiz duas linhas atrás.)
No embalo do atentado a tiros contra Donald Trump, um dos filhos de Bolsonaro, Eduardo, o mais ideológico, espalhou que seu pai, caso Trump se reeleja, sairá vencedor. Uma vez empossado, Trump pressionaria a justiça brasileira e o Congresso para libertar os golpistas do 8 de janeiro. O passo seguinte seria restabelecer a elegibilidade de Bolsonaro.
Você é capaz de imaginar Trump dedicando-se a salvar Bolsonaro e os bolsonaristas condenados por atentarem contra a democracia – e, no caso de Bolsonaro, roubo de joias e fraude em atestados de vacina contra o Covid-19? Faça-me o favor: Trump teria mais o que fazer. Seu interesse pela América Latina é igual a zero. Ele nunca pôs os pés por aqui.
E a justiça brasileira? Dá para imaginar a toga em modo de alvoroço para anular suas decisões e atender aos reclamos do presidente dos Estados Unidos, interessado em libertar golpistas que bateram continência a pneus e acamparam em portas de quartéis clamando por uma intervenção militar? Ora, tenha dó. Menos, menos.
Dó de mim, não de Bolsonaro. Ele não merece sua piedade. Sabe a última de Bolsonaro e da gangue que o cercava, todas pessoas honradas que só queriam o bem do país? O ministro Alexandre de Moraes – sim, sempre ele – suspendeu o sigilo do áudio de uma reunião onde Bolsonaro discute como salvar seu filho Flávio, o senador, da encrenca da rachadinha.
“É o caso de conversar com o chefe da Receita”, sugeriu Bolsonaro a duas advogadas de Flávio. Participaram da reunião que aconteceu em agosto de 2019 o chefe da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), o delegado Alexandre Ramagem, e o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.
À época, o secretário da Receita era José Tostes. Bolsonaro menciona ainda o chefe do Serpro (estatal de processamento de dados do governo) e Gustavo Canuto que estava à frente da Dataprev, outra estatal de processamento de dados. Ramagem gravou a reunião – segundo ele, com autorização de Bolsonaro. Tiro no pé ou não?
A certa altura da gravação, ouve-se o general Heleno a comentar: