O Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) declarou situação crítica de escassez hídrica em porções das bacias do Rio das Velhas e do Rio da Prata. Essa medida é consequência da seca que atinge o estado, incluindo a região metropolitana da capital mineira. Os reservatórios do Sistema Paraopeba, responsável pelo abastecimento da maior parte da Grande BH, também vêm sofrendo quedas diárias. Ontem, o volume era de 169,8 milhões de metros cúbicos, contra 226 milhões na mesma data de 2023 e 238,7 milhões também em 11 de setembro de 2022, segundo dados computados no site da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa). A capital entra hoje (12/9) em seu 146º dia sem chuvas.
“Historicamente, o regime hidrológico neste período do ano já é bastante preocupante. Além disso, ainda enfrentamos dificuldades em relação à ausência de planejamento e ações de preservação ambiental, voltadas principalmente para nossos rios e mananciais”, avalia Poliana Valgas, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH do Rio das Velhas). A situação crítica foi declarada na terça-feira.
No Rio das Velhas, a porção hidrográfica que sofre com escassez fica a montante da estação Várzea da Palma e a jusante da estação Santo Hipólito. De acordo com o Igam, o monitoramento fluviométrico em Várzea da Palma revelou que a média de vazão de água ficou abaixo do percentual mínimo por sete dias consecutivos, caracterizando estado de restrição. No mesmo período, a média das vazões diárias em Santo Hipólito apontou estado de alerta.
Esse cenário impacta cerca de 150 outorgas, instrumento legal que garante ao usuário o efetivo direito de acesso à água, nos municípios de Augusto de Lima, Corinto, João Pinheiro, Lassance, Joaquim Felício, Várzea da Palma, Diamantina, Morro da Garça, Santo Hipólito, Monjolos, Buenópolis e Curvelo.
Por sua vez, no trecho localizado no Rio da Prata, a escassez é registrada a montante da estação Fazenda Buriti do Prata e sua bacia de contribuição. A crise atinge cerca de 170 outorgas nos municípios de Campo Florido, Matipó, Prata, Uberlândia e Veríssimo.
Este ano, outras três portarias de escassez hídrica em Minas foram publicadas e seguem vigentes. São elas: regiões a montante da estação Velho do Taipa, localizada no Rio Pará; da estação Porto do Passarinho, localizada no Rio Abaeté; e da estação Barra do Xopotó, localizada no Rio Xopotó.
Diante da crise hídrica, o Igam estabelece restrições na captação de água nas outorgas dos municípios afetados. São elas: redução de 20% do volume diário outorgado para as captações de água para a finalidade de consumo humano, dessedentação animal e abastecimento público; redução de 25% para a finalidade de irrigação; redução de 30% para as captações de água para a finalidade de consumo industrial e agroindustrial; e redução de 50% do volume outorgado para as demais finalidades.
Em caso de descumprimento das determinações, serão suspensos totalmente os direitos de uso de recursos hídricos dos infratores até o prazo final da vigência da situação crítica de escassez. Estão suspensas também emissões de novas outorgas de direito de uso dos recursos hídricos e solicitações de retificação de aumento de vazões ou volumes captados nas áreas decretadas.
Outras medidas para enfrentar a crise hídrica em Minas estão sendo tomadas. Em Uberaba, município no Triângulo Mineiro, a Companhia Operacional de Desenvolvimento, Saneamento e Ações Urbanas (Codau) comunicou o fechamento de todos os 14 reservatórios de água da cidade durante o período noturno de ontem (11/9) para hoje (12/9). De acordo com a companhia, os reservatórios amanheceram ontem com 60,1% de capacidade. Além disso, o Rio Uberaba mantém o ritmo de redução de vazão com a intensa seca e permanece abaixo de 1.100 litros/segundo.
Os números deste ano revelam um cenário mais crítico do que o registrado em 2023 em Uberaba. Em 11 de setembro do ano passado, o volume dos reservatórios estava em 81,07% da capacidade, e o Rio Uberaba registrava vazão de 1.520 litros/segundo.
Presidente da Codau, Rui Ramos afirma que a companhia tem registrado uma sequência de alta no consumo diário de água ao longo do dia devido ao atual tempo mais quente e seco. Nos dados médios de setembro (de 1º a 9), o índice de aumento é de 25,53%, quando comparado com abril. “A seca nos impõe novas atitudes e insistimos para que as pessoas adotem as medidas recomendadas de economia. Por exemplo, o desperdício de água para lavar a calçada é possível de ser eliminado por completo. São gastos mais de 280 litros para molhar em poucos minutos. Varrer a calçada em vez de lavá-la não consome nada e é o indicado, em qualquer época do ano”, diz Ramos.
Apesar do recomendado, ao andar pelas ruas de Uberaba, é possível observar que muitas pessoas insistem em manter o hábito de, por exemplo, lavar a calçada e a garagem de suas casas com água despejada por mangueiras. Uma moradora do Bairro Parque São Geraldo, que prefere não se identificar, diz que não consegue apenas varrer para realizar a limpeza. “Não tem como não jogar água na minha garagem para refrescar o ambiente da minha casa. Está muito difícil essa baixa umidade do ar, às vezes até abaixo dos 10%. Eu tenho passado mal com náuseas e dor de cabeça por conta desse calorão”, ela conta.
Em Guapé, no Sul de Minas, a estiagem levou a prefeitura a decretar situação de emergência na captação de água para abastecimento. Segundo o Diário Oficial do Município, o Córrego do Alazão teve queda na vazão de água da captação, passando de cerca de 30 litros por segundo para menos de 5 litros por segundo.