O cerrado, que ocupa a maior parte do território mineiro, é um bioma com a marca da resistência. Assim como as espécies que o habitam, aqueles que primeiro ocuparam essas terras tiveram de aprender a sobreviver entre secas extensas e chuvas intensas, condições das duas estações do ano tão bem marcadas na “savana brasileira”. Mas, ao longo dos anos, com o avanço da ocupação humana e de tecnologias que tornaram possível ao agronegócio superar o desafio da água restrita e do solo ácido e com nutrientes pouco acessíveis, a convivência entre homem e ecossistema tornou-se cada vez mais conflituosa. Ao ponto de, hoje, as ações humanas ameaçarem a sobrevivência de várias espécies e o próprio equilíbrio do conjunto.
Uma realidade constatada pela equipe de reportagem do Estado de Minas ao acompanhar por dois dias uma expedição do projeto Plano de Ação Territorial (PAT) Espinhaço Mineiro até a região de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, em busca de três espécies de vegetação que existem apenas naquele pequeno recorte do cerrado, localizado nos chamados campos rupestres.
As características particulares desse conjunto fazem com que muitos pesquisadores defendam sua separação como um bioma em si. Porém, antes que essa discussão possa dar resultado, o ecossistema corre o risco de ter parte da sua flora extinta sem que seja sequer estudada. E um dos inimigos críticos para isso avança sem controle este ano pelo mapa de Minas: o fogo.
As plantas estudadas pelos pesquisadores do PAT têm características únicas e forma de preservação ainda desconhecida, e correm sérios riscos de serem extintas devido à ação humana. Na tentativa de preservá-las, biólogos e pesquisadores têm trabalhado para identificar e estudar espécies “criticamente em perigo”, último estágio antes da extinção.