Geral saude mental
Saúde e infância: sintomas e tratamentos da puberdade precoce central
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamentos gratuitos para a PPC; saiba quando procurar orientação médica
23/09/2024 07h25
Por: Carlos ball Fonte: em

Em grupos de 5 a 10 mil crianças, ao menos uma é afetada pela puberdade precoce central (PPC), ocorrendo com mais frequência em meninas¹. Caracterizada por sinais corporais típicos da puberdade, porém antes do tempo, a PPC pode causar um impacto significativo tanto no desenvolvimento físico quanto psicológico das crianças. Identificar os sintomas precocemente é crucial para garantir um tratamento adequado.

O que é puberdade precoce central?

Na puberdade normal, o hipotálamo e a hipófise - estruturas que controlam o desenvolvimento sexual e ficam localizadas no cérebro, interligadas ao sistema endócrino - começam a estimular os ovários nas meninas e os testículos nos meninos. 

No entanto, na PPC, essa estimulação acontece prematuramente, antecipando as mudanças físicas: antes dos oito anos em meninas e dos nove anos em meninos. Entre os sinais mais comuns estão o crescimento acelerado, desenvolvimento de pelos pubianos, acne, odores corporais mais intensos e, no caso das meninas, o início precoce do desenvolvimento das mamas e uma previsão de menarca (primeira menstruação) em idade adiantada².

Vale destacar a importância de prestar atenção aos sinais menos visíveis em meninos, que podem não apresentar pelos faciais, mas podem ter um crescimento precoce dos testículos e do pênis².

Principais sinais de alerta 

Pais e responsáveis devem ficar atentos aos sinais que podem indicar o início precoce da puberdade. Abaixo estão alguns sintomas que devem ser observados²:

Caso algum desses sinais seja notado antes dos oito anos de idade, é essencial procurar orientação médica. O primeiro passo é consultar um pediatra, que poderá encaminhar para um endocrinologista, especialista em distúrbios hormonais, capaz de diagnosticar e tratar a PPC. É importante ressaltar que cada caso deve ser analisado individualmente, já que nos primeiros anos de vida pode haver um estímulo hormonal capaz de aumentar mamas, por exemplo, com regressão posterior³.

A endocrinologista pediátrica, Dra. Sarah Baccarini, médica assistente do serviço de Endocrinologia Pediátrica da UFMG e doutora em Saúde da Criança e do Adolescente, explica que o diagnóstico da PPC começa com uma avaliação clínica detalhada, seguida de exames laboratoriais para medir os hormônios FSH, LH - responsáveis por regular a atividade das glândulas sexuais. “Além disso, podemos realizar exames de imagem, como radiografias e ultrassonografias, para verificar se há uma maturação óssea acelerada, ou seja, um crescimento anormal”, destaca a especialista.

Além da PPC, há outro tipo de puberdade precoce, conhecida como puberdade precoce periférica (PPP). Nessa condição, o estímulo hormonal não vem do sistema nervoso central, mas de outros órgãos, como os ovários e testículos, que podem ser afetados por cistos ou tumores 4. “A PPP é mais rara”, afirma a Dra. Sarah Baccarini, ressaltando que o problema pode ocorrer devido a cistos ou tumores ovarianos ou dos testículos, além de alterações na glândula adrenal, também produtores de hormônios.

A PPC é influenciada por fatores genéticos, psicológicos e ambientais, como condições socioeconômicas, saúde e nutrição ¹. No entanto, não existe uma causa única para a doença. “Algumas causas são hereditárias, com predisposição genética, mas esses casos representam uma minoria”, observa a médica, enfatizando a importância do diagnóstico correto e da orientação especializada para um tratamento adequado.

A endocrinologista acrescenta que o Sistema Único de Saúde (SUS) já oferece tratamento gratuito para PPC, mediante encaminhamento médico. “O diagnóstico e o tratamento precoce são cruciais para minimizar os impactos físicos e emocionais gerados pela doença”, afirma.

Ela explica que, quando não tratado, o desenvolvimento corporal prematuro pode resultar em uma estatura final mais baixa na vida adulta, uma vez que o crescimento ósseo é acelerado. Além disso, costuma desencadear ansiedade, depressão e baixa autoestima. “É difícil para uma criança lidar com a pressão de um corpo em transformação, antes dos colegas da mesma idade. Nesses casos, o acolhimento e o apoio familiar também é muito importante”, ressalta a médica.

Referências
1) Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia. “Avanços na etiologia, no diagnóstico e no tratamento da puberdade precoce central”.
https://www.scielo.br/j/abem/a/xKGppnB4BTSZsYbDPBmhxCH/#
2) Ministério da Saúde. Puberdade Precoce Central. PCDT.
https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/protocolos/resumidos/PCDT_Resumido_Puberdade_PC_final.pdf
3) Sociedade Brasileira de Pediatria. Telarca Precoce.
https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/desenvolvimento/telarca-precoce/
4) Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia. “Diagnóstico laboratorial da puberdade precoce”. 
https://doi.org/10.1590/S0004-27302002000100012