Tradicional em Minas Gerais, a Semana Santa é um marco religioso para a maioria das cidades históricas e em São João del- Rei não é diferente. No entanto, o município se destaca por preservar integralmente uma tradição com mais de 300 anos: a celebração dos três Ofícios de Trevas. Essa particularidade torna a cidade um local único, já que nem mesmo o Vaticano realiza mais o ofício completo como em São João del-Rei.
Os Ofícios de Trevas, parte da liturgia da igreja de trevas, acontecem na Quarta-feira Santa à noite, na Sexta-feira Santa pela manhã e no Sábado Santo pela manhã. Através de salmos, leituras bíblicas e textos dos santos padres, os fiéis são convidados a meditar sobre a paixão de Cristo.
Um elemento central desta tradição é o tenebrário, um candelabro com 15 velas. A cada salmo recitado, uma vela é apagada, simbolizando a glória de Jesus se extinguindo aos olhos do mundo. A última vela, no vértice do tenebrário, representa Jesus Cristo, a luz do mundo, e permanece acesa.
O momento principal ocorre quando essa última vela acesa é retirada e escondida atrás do altar. Nesse instante, todas as luzes da igreja se apagam e os fiéis produzem um grande estrondo batendo no assoalho e nos livros. Este rito dramático recorda a morte de Jesus na cruz e as alterações na natureza descritas nos evangelhos. Após o “batimento das trevas”, a vela acesa retorna ao seu lugar, e as luzes da igreja são reacesas, simbolizando que a luz de Cristo nunca se apaga e anunciando a ressurreição. A vela escondida lembra a sua sepultura, e o seu retorno aceso é o anúncio da ressurreição.
A realização da Semana Santa, incluindo os Ofícios de Trevas, é uma iniciativa da Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento da Paróquia da Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, que mantém viva essa tradição há mais de três séculos. Diversas pessoas e instituições colaboram, incluindo a Orquestra Ribeiro Bastos, solistas, coros, instrumentistas, sineiros e a banda de música Teodoro de Faria.