Não retaliar e buscar, com o diálogo, uma solução para o impasse – esta deve ser a posição do Brasil em relação às tarifas de 50% aplicadas contra produtos brasileiros impostas pelos Estados Unidos, defende o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG), Flávio Roscoe.
A declaração foi concedida em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (10), quando o empresário traçou as consequências do tarifaço de Donald Trump para a economia brasileira e mineira. “Nesse jogo, nós temos mais a perder do que os Estados Unidos em função justamente da dimensão das economias. É por isso mesmo que urge a nós, que temos mais a perder, sentar à mesa”, defende Roscoe.
De acordo com o presidente da Fiemg, há um cenário de reorganização geopolítica mundial, em que há um conflito entre duas potências que buscam a hegemonia no cenário internacional – de um lado os Estados Unidos, do outro, a China. Isso, em si, gera conflitos, na visão de Roscoe, e, como consequência, o ideal seria que o Brasil se colocasse com neutralidade entre as duas nações.
“O posicionamento ideal do Brasil seria um posicionamento de neutralidade, quer dizer, somos amigos de todo mundo, a gente abraça todo mundo. Nós estamos com todo mundo. Para o comércio e para a população brasileira, eu entendo que esse é o melhor posicionamento”, explica
Em relação ao conflito atual com os Estados Unidos, Roscoe pontua que o país é um parceiro tradicional do Brasil e que, inclusive do ponto de vista geográfico, “faz todo o sentido que as nossas economias tenham um fluxo de comércio ativo e complementar”. “No nosso entendimento ambos os países perdem muito, mas perde mais o Brasil devido à relevância dos Estados Unidos para nós. Nós não temos a mesma relevância para o mercado americano”, destaca.
Ele lembra que o Brasil, no início da escalada tarifária promovida por Donald Trump, chegou a estar entre as melhores faixas de tarifas, mas que, agora, está entre as piores. “O fato concreto hoje é que nós saímos da melhor posição para a pior posição. E isso realmente não é positivo e a gente quer retornar aquela posição confortável de melhor posição, porque entendemos que isso pode sim ajudar e a sociedade brasileira como todo”, acrescenta.
Questionado sobre a postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que afirmou que o Brasil seguiria de acordo com a “reciprocidade” em relação à política tarifária de Donald Trump, Roscoe afirma, “de maneira contundente”, que a retaliação seria o pior caminho para a economia.
“Sem sombra de dúvida, traria um grande prejuízo à população brasileira e seria tornaria mais difícil a volta à mesa (de diálogo). A nossa retaliação, vai ter um impacto, mas não vai ser nem de perto o tamanho do impacto que tem os efeitos da retaliação americana sobre nós. Então, na nossa leitura, o melhor cenário é o diálogo e rapidamente retroceder essa última posição americana”, afirma.
Sobre a “parcela de culpa” do presidente Lula no anúncio de Trump, Roscoe se esquivou e disse que o presidente, na realidade, tem “responsabilidade na solução”. “Cabe ao Brasil e aos Estados Unidos encontrar a solução para esse problema, e a solução está na mão dos dois. Do Trump e do Lula. Para trás não adianta olhar, a gente tem que olhar para frente. O que a gente espera agora é a solução”, pondera.
Questionado sobre uma eventual responsabilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro, Roscoe negou e disse que quem tem a caneta na mão é quem tem poder de ação sobre o cenário atual. “Ele não é presidente, ele não tomou ação nenhuma. Responsabilidade efetivamente é de quem tá no poder, quem tem a caneta e o poder de decisão, no caso, Donald Trump e Lula”, conclui.