Saúde Dengue
Infectologistas alertam para avanço de dengue e COVID pós-carnaval
Especiaisttas destacam as consequências que o aumento de casos podem acarretar ao sistema de saúde e aos usuários. PBH afirma que atendimento a pacientes não foi prejudicado no feriadão
14/02/2024 07h20
Por: Carlos ball Fonte: em

Milhões se jogam no carnaval sem se importar com o amanhã. Vivem uma verdadeira fantasia. Mas a realidade chega e tem um preço. O efeito folia de Momo, com a aglomeração de pessoas, um mar de gente reunida, juntas pelas ruas atrás dos blocos, somados à instabilidade climática (BH teve dias de chuvas e chegou a 30º), podem desencadear uma explosão de casos tanto de dengue quanto de COVID.

Na segunda-feira, o Brasil atingiu 512 mil casos de dengue em 2024, segundo os dados atualizados pelo Ministério da Saúde. Os números incluem o volume de casos confirmados e aqueles que ainda estão em investigação, em todos os estados, de janeiro até 12 de fevereiro. Foram confirmadas 75 mortes. Outras 340 estão em investigação. Os casos de dengue são quase quatro vezes mais do que os registrados no mesmo período de 2023. À época, foram 128,8 mil notificações. Minas Gerais é a unidade da federação com mais casos, 171.769 ocorrências.

A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informa que em 2024, até o momento, foram confirmados 2.649 casos de dengue na capital, com cinco óbitos. Há 13.034 casos notificados pendentes de resultados de exames laboratoriais e avaliações epidemiológicas. Foram investigados e descartados 1.587 casos. Neste ano, foram confirmados ainda 206 casos de chikungunya em residentes de Belo Horizonte. Há 265 casos notificados pendentes de resultados. Não há registro de casos de zika em BH.

No fim de semana do carnaval, mais de 1.500 pessoas com sintomas de dengue procuraram as 11 unidades de saúde abertas no sábado (10/2) e domingo (11/2) em Belo Horizonte. De acordo com a PBH, somente nos centros de saúde Francisco Gomes Barbosa/Tirol (Barreiro), Vera Cruz (Leste), Aarão Reis (Norte), São Paulo (Nordeste), Betânia (Oeste) e Rio Branco (Venda Nova), foram atendidos 887 usuários entre as 7h e às 19h. Já para as Unidades de Reposição Volêmica (URVs), nas regionais Centro-Sul e Venda Nova, foram encaminhadas 89 pessoas do total de atendidos nos centros de saúde e CAAs. Os dados não incluem pessoas que foram atendidas nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA), segundo a prefeitura.

TRAMPOLIM PERIGOSO

O médico infectologista Estevão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia (SMI) e diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), destaca que “quando se tem muitas aglomerações, gera-se muito material que pode acumular água, favorecendo, portanto, a multiplicação do mosquito (Aedes aegypti).” Ele acrescenta: “Muitas pessoas juntas podem, obviamente, ser mais contaminadas pelo mesmo mosquito. Como tivemos essa situação durante o carnaval, está feito o cenário. E com a volta às aulas também há aumento da movimentação das pessoas, geração de resíduos e a possibilidade de acúmulo de líquidos. Isso pode ser um trampolim para a dengue, que já está em número alarmante e pode aumentar exponencialmente”, alerta.Estevão Urbano destaca as consequências: “O aumento exponencial é acompanhado de inúmeros problemas. Acarreta tanto para as pessoas, quanto para o sistema de saúde, sobrecarga para os postos, entre outros. E até aumentando, às vezes, número de internações e óbitos”.O médico infectologista lembra que carnaval e volta às aulas são atividades com riscos não só para o aumento de casos dengue, como também para a COVID-19 e outras doenças que pioram com aglomerações: “Então, o pós-carnaval será de alerta”, avisa.

O prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), em coletiva para falar sobre o carnaval na capital, nessa terça-feira (13/2), declarou que o atendimento a pacientes não foi prejudicado no feriadão. “Tivemos postos volantes durante o carnaval. Não comprometemos nenhuma estrutura física de saúde porque, junto com o carnaval, estamos enfrentando uma epidemia de dengue. Não paramos de atender. Ontem (segunda, 12/2), tivemos todos os postos de saúde abertos para atender (os pacientes). Hoje (terça), vamos ter novamente, porque a dengue é um problema e a prefeitura tem que estar mobilizada para atender a todos.”

SAZONALIDADE

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) esclarece que a dengue é uma doença sazonal, sendo que 30% a 50% dos casos podem cursar de forma assintomática, com ocorrência e ampliação de casos de janeiro a abril, e queda até maio, sem impacto direto do carnaval, mas que tem curva epidemiológica regular de crescimento neste período. A PBH informa ainda que monitora a situação epidemiológica da capital e esclarece que possui um Plano de Enfrentamento às Arboviroses, que contempla ações que têm como objetivo "ofertar uma assistência oportuna, segura e de qualidade, de forma a evitar a ocorrência de maior gravidade de casos". O plano está sendo ativado gradativamente, mediante o atual cenário da cidade."


TRANSMISSÃO SILENCIOSA

Quanto à dengue assintomática, a chamada transmissão silenciosa (o assintomático tem o vírus da dengue circulando pelo corpo e se for picado pelo Aedes aegypti, o inseto se contamina e já é capaz de espalhar a doença), é outra realidade preocupante: “A dengue assintomática realmente ocorre, algumas pessoas não têm sintomas, são vetores de transmissão porque, obviamente, quando o mosquito se alimenta do sangue dessas pessoas, se já estão contaminadas, se infecta e depois transmite para outras. Na aglomeração, vai aumentar o número de pessoas infectantes e, em cadeia, vai desaguar nos problemas já mencionados”, enfatiza Estevão Urbano.