A Estrada de Ferro Vitória - Minas (EFVM), que liga a capital do Espírito Santo a Belo Horizonte, é uma das duas últimas ferrovias que resistem prestando transporte regular de passageiros no Brasil. E com viagens diárias, com um trem partindo de cada ponta, ela não tem sido útil apenas para quem quer fazer o percurso entre os dois estados: moradores ao longo do trajeto têm dado preferência ao meio de transporte para fazer viagens curtas entre cidades próximas, e muitos pedem ampliação do serviço, indicando a demanda reprimida pelo transporte ferroviário.
O Estado de Minas foi a estações próximas da capital para ouvir histórias de passageiros que preferem o trem a ônibus e carros, por ser um deslocamento mais barato e mais seguro do que os feitos pelas rodovias locais – especialmente a temida BR-381, na saída de BH para o Leste de Minas e Espírito Santo. Pessoas que, inclusive, endossam o coro por mais horários, ramais e linhas de trem em seus municípios.
“Lá na minha cidade, passa das 12h às 13h. Se fossem dois horários, cedo e à tarde, seria melhor”, afirma o pecuarista José Tito Diogo, que pega o trem entre a estação de Barão de Cocais, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e a estação de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, que fica próxima ao seu destino, o município de Tumiritinga.
“É perto da minha casa e hoje pago só a metade, porque sou um menino mais graduado”, diz, aos risos, sobre o desconto para idosos. “E é também conforto. Hoje tem um sistema limpo, o pessoal não fuma, não bebe, então, é outra coisa. Bem familiar”, comenta Tito.
O baixo custo do transporte ferroviário em relação ao rodoviário também atraiu a trabalhadora doméstica Valeria Martins da Silva, de 54 anos. “O trem é mais em conta, e eu teria que pegar três ônibus para ir de Rio Piracicaba até Santa Bárbara”, afirma. O trajeto mencionado por ela entre os municípios vizinhos em Minas Gerais custa R$ 14 pela EFVM, enquanto a soma das passagens de ônibus necessárias ultrapassa R$ 40.
“Temos optado pelo trem”
No vagão restaurante, a reportagem do EM conversou com os empresários Zegama e Telcilene Dalla, de Colatina, no Espírito Santo, que viajavam com o filho, Arthur, de 23 anos. “Meu outro menino passou na faculdade de medicina em Belo Horizonte e a gente está fazendo esse trajeto quase que sempre agora”, diz o pai.
“Fizemos de ônibus também, mas é um pouco mais cansativo e ficamos apreensivos na estrada. Então, temos optado pelo trem. Já viemos de classe econômica e, desta vez, conseguimos a executiva”, explica Telcilene. Ao todo, eles passam 11 horas viajando pela estrada de ferro, que tem 664 quilômetros de extensão e 30 pontos de embarque e desembarque. O trajeto de BH a Vitória custa R$ 73 (econômica) e R$ 105 (executiva).
O transporte também mexe com o imaginário das crianças, como o pequeno Benício Barcelos Leandro, de 3 anos, que, segundo a avó Gerlaine Linhares, de 56, estava animado com a primeira viagem. “Meu neto quer passear de trem. A minha nora é de Santa Catarina e eles vieram ficar na minha casa, aí estamos aproveitando os momentos com eles”, diz.
Os oito vagões de passageiros – número que aumenta ou diminui conforme a época do ano –, divididos nas classes econômica e executiva, são fechados, com ar-condicionado, mas têm algumas diferenças. Além das cadeiras, que podem ser mais largas e confortáveis, também pode haver cortinas e sistemas individuais de som, iluminação e tomada elétrica. O atual modelo do trem, fabricado na Romênia, completa 10 anos de uso na linha este ano.
Longe das estações, a internet móvel é interrompida e um serviço de compra de sinal 3G/4G está disponível no restaurante, onde há uma antena para que as máquinas de cartões funcionem. Por esse motivo, o vagão se torna o único local possível para comprar comidas e bebidas sem precisar de dinheiro em espécie, já que os carrinhos que passam pelo trem não têm conexão. No cardápio, há muitas opções para quem passa horas viajando, incluindo almoço e jantar, mas sem venda de bebidas alcóolicas.