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Semana Santa em Diamantina: Fé em ritmo barroco
Tesouros sonoros marcam as cerimônias da Semana Santa em Diamantina. Em destaque, motetos compostos no século 18, tocados e cantados somente nas procissões do período
21/03/2024 07h17
Por: Carlos ball Fonte: em

Com o Centro Histórico reconhecido como Patrimônio Mundial, título que completará 25 anos em dezembro, Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, guarda tesouros sonoros que engrandecem ainda mais as cerimônias da Semana Santa, fazendo a união harmoniosa da arte sacra com os sons barrocos. Em destaque, os motetos, tocados e cantados nas procissões de Nossa Senhora das Dores, que ocorrerá amanhã (22/3), e do Encontro, na próxima quarta-feira (27/3).

“São obras fúnebres, ouvidas apenas nas procissões da Paixão de Cristo, nunca em outras épocas”, conta o maestro Edison Soares de Oliveira, que, durante 15 anos, esteve à frente da Banda Euterpe Diamantinense (hoje, o regente é Carlos Henrique Lemos), continuando presente nos ensaios dos músicos e regendo as bandas do Terceiro Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais e a infantil.

As obras musicais apresentadas nas solenidades religiosas são de autoria do compositor mineiro José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, que viveu no século 18 no antigo Arraial do Tijuco (hoje Diamantina) e entrou para a história como Lobo de Mesquita. “Os motetos expressam cultura, fé, arte e a beleza da Semana Santa de Diamantina. O povo daqui tem como característica a musicalidade, e isso fica evidente nas procissões e demais cerimônias da paixão, morte e ressurreição de Cristo”, destaca o padre Júlio César Morais, pároco da Catedral da Sé e coordenador das solenidades em quatro paróquias.

“Na Sexta-feira da Paixão, na Procissão do Enterro, temos a apresentação da Guarda Romana, algo espetacular e único”, acrescenta o sacerdote.

VALORIZAÇÃO DA ARTE ASSOCIADA À DEVOÇÃO

Neste ano, para valorizar a importância cultural dos motetos, a Prefeitura de Diamantina apresenta uma publicação com explicações detalhadas sobre essas músicas da Semana Santa. Conforme a pesquisa, trata-se de gênero musical polifônico interpretado por meio de articulações do texto, criando uma sucessão de momentos musicais contrastantes: “Composição poética constituída de poucos versos em rima, de caráter popular e brilhante; forma sacra polifônica vocal ou vocal-instrumental que se desenvolve a partir do século 13: diminutivo de motto (dito, ditado, palavra, epígrafe). O elemento estilístico encontrado em todos os motetos é de caráter penitencial, por se tratar de música que ilustra as passagens dos últimos momentos da vida de Jesus Cristo”. Executados pelo coral da Catedral Metropolitana, os motetos são únicos e compostos por Lobo de Mesquita –em cada uma das paradas da procissão, o coro apresenta um em latim.


MOMENTOS EXCEPCIONAIS NAS CERIMÔNIAS DE MINAS

Contando a história da paixão, morte e ressurreição de Cristo, as cerimônias da Semana Santa em Minas são retratadas, com fervor, nas missas, ofícios, procissões e nas encenações de quadro bíblicos. A historiadora Adalgisa Campos divide esses ritos entre litúrgicos e para-litúrgicos, situando ambos no contexto da “pompa barroca” que faz com que tais celebrações sejam momentos excepcionais.