Despedidas sem velório. O último adeus, no hospital, sem ninguém ao lado. Pouco tempo dos primeiros sintomas à morte. Essas são marcas deixadas pela pandemia de Covid-19.
No Brasil, os casos confirmados da doença ultrapassam a marca de 38 milhões. Já os óbitos chegam a 712 mil. Esses números falam sobre epidemiologia, mas também sobre vidas interrompidas e famílias marcadas pela partida de alguém querido.
O g1 conversou com moradores de Montes Claros que perderam mães, pais ou ambos e recomeçaram, cada um à sua maneira. Eles contam como ressignificaram a perda dos seus entes.
'É ajudando o outro que eu tenho me curado'
No caso da agente comunitária de saúde Josimeire Freitas, recomeçar após perder o pai, de 84 anos, só foi possível porque ela entendeu que é importante ao próximo. Josi, como é carinhosamente chamada por amigos, coordena há 10 anos um projeto social que acolhe mais de 100 jovens em situação de vulnerabilidade social.
"Eu tive o privilégio de ter o meu pai durante tantos anos, mas aqui há crianças e adolescentes que os pais morreram e muitos que nunca saberão quem são os pais porque foram abandonados. Todos que são cuidados pelo projeto precisam de mim. Meu pai deixou memórias boas, quanto aos outros, quais as memórias boas deles? É minha missão ajudar a criá-las. Eu preciso fazer a diferença na vida de quem acredita em mim. E isso é maior que a morte. É ajudando o outro que eu tenho me curado".
Ela relembra que o pai inicialmente manifestou sintomas leves do coronavírus. Ele chegou a ficar internado e morreu no hospital, em maio de 2021. Não teve velório e o sepultamento foi restrito.
"Foi uma despedida incompleta. Meu pai gostava de andar cheiroso e sempre bem arrumado. E pensar que, na hora da morte, ele foi colocado em um saco, sem roupas, sem flores. Eu queria vê-lo, tocá-lo. Eu cheguei a questionar se realmente era meu pai que estava dentro do caixão. Essas coisas ficaram na minha cabeça e aumentavam a dor. Eu decidi, então, descansar em Deus e aceitar a vontade dele."
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