Em grupos de 5 a 10 mil crianças, ao menos uma é afetada pela puberdade precoce central (PPC), ocorrendo com mais frequência em meninas¹. Caracterizada por sinais corporais típicos da puberdade, porém antes do tempo, a PPC pode causar um impacto significativo tanto no desenvolvimento físico quanto psicológico das crianças. Identificar os sintomas precocemente é crucial para garantir um tratamento adequado.
Na puberdade normal, o hipotálamo e a hipófise - estruturas que controlam o desenvolvimento sexual e ficam localizadas no cérebro, interligadas ao sistema endócrino - começam a estimular os ovários nas meninas e os testículos nos meninos.
No entanto, na PPC, essa estimulação acontece prematuramente, antecipando as mudanças físicas: antes dos oito anos em meninas e dos nove anos em meninos. Entre os sinais mais comuns estão o crescimento acelerado, desenvolvimento de pelos pubianos, acne, odores corporais mais intensos e, no caso das meninas, o início precoce do desenvolvimento das mamas e uma previsão de menarca (primeira menstruação) em idade adiantada².
Vale destacar a importância de prestar atenção aos sinais menos visíveis em meninos, que podem não apresentar pelos faciais, mas podem ter um crescimento precoce dos testículos e do pênis².
Pais e responsáveis devem ficar atentos aos sinais que podem indicar o início precoce da puberdade. Abaixo estão alguns sintomas que devem ser observados²:
maturação/crescimento acelerado em relação aos colegas da mesma idade;
aparecimento precoce de pelos pubianos e/ou axilares;
mudanças na pele, como aumento da oleosidade e acne;
desenvolvimento das mamas nas meninas ou aumento dos testículos e do pênis nos meninos;
alterações comportamentais ou emocionais, como aumento da ansiedade ou isolamento.
Caso algum desses sinais seja notado antes dos oito anos de idade, é essencial procurar orientação médica. O primeiro passo é consultar um pediatra, que poderá encaminhar para um endocrinologista, especialista em distúrbios hormonais, capaz de diagnosticar e tratar a PPC. É importante ressaltar que cada caso deve ser analisado individualmente, já que nos primeiros anos de vida pode haver um estímulo hormonal capaz de aumentar mamas, por exemplo, com regressão posterior³.
A endocrinologista pediátrica, Dra. Sarah Baccarini, médica assistente do serviço de Endocrinologia Pediátrica da UFMG e doutora em Saúde da Criança e do Adolescente, explica que o diagnóstico da PPC começa com uma avaliação clínica detalhada, seguida de exames laboratoriais para medir os hormônios FSH, LH - responsáveis por regular a atividade das glândulas sexuais. “Além disso, podemos realizar exames de imagem, como radiografias e ultrassonografias, para verificar se há uma maturação óssea acelerada, ou seja, um crescimento anormal”, destaca a especialista.
Além da PPC, há outro tipo de puberdade precoce, conhecida como puberdade precoce periférica (PPP). Nessa condição, o estímulo hormonal não vem do sistema nervoso central, mas de outros órgãos, como os ovários e testículos, que podem ser afetados por cistos ou tumores 4. “A PPP é mais rara”, afirma a Dra. Sarah Baccarini, ressaltando que o problema pode ocorrer devido a cistos ou tumores ovarianos ou dos testículos, além de alterações na glândula adrenal, também produtores de hormônios.
A PPC é influenciada por fatores genéticos, psicológicos e ambientais, como condições socioeconômicas, saúde e nutrição ¹. No entanto, não existe uma causa única para a doença. “Algumas causas são hereditárias, com predisposição genética, mas esses casos representam uma minoria”, observa a médica, enfatizando a importância do diagnóstico correto e da orientação especializada para um tratamento adequado.
A endocrinologista acrescenta que o Sistema Único de Saúde (SUS) já oferece tratamento gratuito para PPC, mediante encaminhamento médico. “O diagnóstico e o tratamento precoce são cruciais para minimizar os impactos físicos e emocionais gerados pela doença”, afirma.
Ela explica que, quando não tratado, o desenvolvimento corporal prematuro pode resultar em uma estatura final mais baixa na vida adulta, uma vez que o crescimento ósseo é acelerado. Além disso, costuma desencadear ansiedade, depressão e baixa autoestima. “É difícil para uma criança lidar com a pressão de um corpo em transformação, antes dos colegas da mesma idade. Nesses casos, o acolhimento e o apoio familiar também é muito importante”, ressalta a médica.
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