Há duas semanas, Minas Gerais foi dividida por 853 disputas em que os competidores tinham como objetivo comum tornar-se prefeito de um município. Apesar desta semelhança no propósito final, cada pleito, cidade e candidato tem suas idiossincrasias e o time de eleitos é formado por um grupo heterogêneo sob diversos pontos de vista. Um deles é a idade.
O EM foi atrás dos extremos para conhecer um pouco mais da história do prefeito mais jovem e o mais velho de Minas Gerais.
Cerca de 200 quilômetros de distância separam Heliodora, no Sul de Minas, de Carrancas, no Campo das Vertentes. Na idade de seus prefeitos a partir de 2025, a diferença de é de 66 anos.
O próximo chefe do Executivo da primeira cidade será Eduardo do Alex (PSD), de 21 anos e o da segunda, seguirá Hely Andrade Alves (MDB), que entrará em seu sexto mandato aos 87.
O octogenário emedebista está na política há mais de cinco décadas sem nunca ter deixado os limites da pequena cidade de Carrancas, conhecida por suas cachoeiras. Com 4.049 habitantes, o município tem 21,66% de sua população acima dos 60 anos, segundo o Censo de 2022 divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O mesmo levantamento mostra também que há apenas 27 moradores carranquenses mais experientes que o prefeito.
Em entrevista ao Estado de Minas, Hely Andrade Alves, nascido em 8 de junho de 1937, contou sobre o início de sua trajetória política em plena ditadura militar, ressaltou que esta é sua primeira campanha de reeleição e deu um conselho ao jovem Eduardo, que inicia seus passos na política em 2025. O prefeito chega para seu sexto mandato tendo vencido na cidade com 100% dos votos válidos, uma vez que foi o candidato único do pleito.
O senhor está indo para seu sexto mandato em Carrancas. Como foi o começo dessa história?
Eu entrei na vida política em 1970, aqui em Carrancas mesmo. Naquele ano fui candidato a prefeito com mandato de dois anos. Fui candidato único também. Eu nunca tinha trabalhado na política e foi o maior mandato que eu tive. Abri estradas de fora a fora na cidade e percebi que poderia fazer muitas obras e ajudar muito os mais pobres. Quando os militares estavam no poder, eles soltavam muita verba para as prefeituras, então havia fartura de dinheiro e era preciso saber organizar. Eu fui aprendendo a governar e nunca me candidatei à reeleição. Sempre terminava meu mandato e saía. Cheguei a ficar 16 anos sem me candidatar, inclusive.
Essa foi sua primeira campanha de reeleição?
Sim. Dessa vez eu decidi tentar continuar porque tenho muitos projetos. Preciso fazer a Casa do Idoso, construir uma creche e quero melhorar o sistema de água da cidade. O tratamento de esgoto já está praticamente pronto. Além disso, o governador Romeu Zema (Novo) me pediu para continuar. Ele me disse que faria melhorias no asfalto das estradas que ligam Carrancas com o restante do estado. Essa estrada passa em Minduri, liga até Caxambu e depois vai embora para São Paulo.
O senhor foi candidato único na cidade novamente?
De novo, eu fui único em 1970, em 1982 e agora. Nunca saí de Carrancas, tive propostas, mas fiquei. Não sou de família de política. Entrei nos anos 1970 porque os militares do Arena (Aliança Renovadora Nacional) foram em minha casa e me pediram para que eu fosse prefeito. Na época, ninguém mais queria se candidatar para dois anos de mandato. Então eu fui. Eu tinha um comércio na cidade, então o pessoal já me conhecia. Hoje eu tenho uma fazenda e me dedico mais a ela do que ao comércio.
O senhor viveu sua vida toda em Carrancas?
Eu fiquei 16 anos sem morar aqui, ia e voltava sempre. Da minha fazenda ao centro da cidade dá 13 quilômetros. Isso foi de 2004 até 2018, 2019. Foi quando o povo foi lá na minha fazenda me buscar. Viram que o negócio não estava indo bem e foram me chamar para ser prefeito. Se não, Carrancas acabava. Eu gosto muito de ver a alegria do povo, saúde é comigo, educação é comigo.
Qual será sua prioridade nesse sexto mandato?
Saúde aqui é em primeiro lugar. Aqui ninguém paga nada, em caso de doença, nós temos tratamento. No hospital estamos terminando de construir o segundo andar. Eu invisto muito em saúde.
O senhor viveu a política municipal ao longo de cinco décadas, acha que hoje é melhor ou antigamente o cenário era mais tranquilo?
Hoje você mexer com prefeitura é muito bom. Povo de cidades pequenas, do interior, se não gostam de você, escolhem o adversário. Aqui em Carrancas a democracia funciona. Não tem empresário, não tem político autoritário. Tem que agradar o povo e o povo responde
Mas por que o senhor disputou a eleição sozinho?
O pessoal fez uma pesquisa e viram que eu estava com 80% de votos. E aí ninguém quis disputar. Era um direito deles, eu não persigo ninguém. Trato os adversários com respeito e ajudo o meu lado. Se for preciso, ajudo os adversários também.
Outro dia chegou na prefeitura uma mulher precisando de R$ 19 mil para fazer uma operação para os olhos, eu arrumei o dinheiro. Entrou dinheiro aqui, é para dar para o pobre, para ajudar o pobre.
Em 2028 o senhor não vai mais poder se candidatar. O que pretende fazer nos anos seguintes?
Em 2028 pode ser meu vice, Magno (MDB). Concorrer eu não vou concorrer mais. Vou estar com 91 anos, está na hora de subir lá pro cemitério. Mas meu vice vai ser eleito, pode escrever o que estou falando hoje. Vou por ele na linha, mandar ele olhar os pobres. Pobre não pode passar fome. Se for preciso ir para os Estados Unidos operar ou fazer um tratamento, vai levar.
Também vamos entrevistar Eduardo do Alex (PSD), prefeito mais jovem do estado eleito em Heliodora aos 21 anos. Qual conselho você daria para seu mais novo companheiro?
Eduardo, vou te falar, você tem que ter o povo a seu lado. Tem que ouvir o povo, esqueça os políticos. Estar com o povo é estar com Deus. A segunda coisa é ser humilde. E a terceira é ter coragem de fazer as coisas. O resto você vai pegando o jeito com o tempo.
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