Representante do governo brasileiro no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, quer reforçar a necessidade de fazer uma transição energética “justa e inclusiva”. Ele participa até amanhã de reuniões bilaterais com governos estrangeiros, painéis sobre sustentabilidade e economia e encontros com investidores.Em entrevista ao Estado de Minas, Silveira disse que, apesar de o Brasil ter uma matriz energética limpa e renovável, ainda não pode abandonar outras fontes de energia. “Nós temos que trabalhar com a realidade. A transição tem que ser justa, e para ser justa não pode custar a fome dos brasileiros. Não pode ser cobrada de um povo que já pagou por ter uma matriz energética muito limpa”, afirmou.

 


Silveira ressaltou que o país tem autoridade para liderar as discussões ambientais e cobrar as ações efetivas dos países desenvolvidos. Segundo ele, as nações mais ricas não cumprem os compromissos ambientais mesmo tendo matrizes energéticas “muito piores.”

 

Depois de um ano à frente do Ministério de Minas Energia, quais os avanços do país na transição energética em sua gestão?


É uma grande prioridade do governo Lula liderar a transição energética do planeta. Até porque as nossas potencialidades naturais nos permitiram, com 11% da água doce do planeta, ter as nossas hidrelétricas e pequenas centrais hidrelétricas. O vento do Nordeste com a sua potencialidade eólica, o sol dos vales do Jequitinhonha e do Mucuri e Norte de Minas, hoje é uma grande fonte energética. O Brasil tem uma das melhores matrizes de energia elétrica do mundo, 88% limpa e renovável. Também estamos trabalhando fortemente para descarbonizar o setor de transporte e mobilidade através dos biocombustíveis. Retomamos no ano passado um dos principais programas de incentivo econômico ao setor de biocombustíveis, que é o RenovaBio. Estamos ampliando a participação do biodiesel para fortalecer a agricultura nacional. O Brasil tem autoridade para conversar, com os investidores nos fóruns internacionais. É fundamental que a gente atraia investimentos para que possa proteger o planeta do ponto de vista ambiental, mas também fortalecer a economia nacional.

 

 

O presidente Lula tem criticado a postura dos países mais desenvolvidos em relação à transição energética. Qual sua visão da contribuição dos países mais ricos?


Critica com toda a razão. Pela nossa matriz energética e pelo próprio perfil do presidente Lula, que sempre discutiu políticas públicas internacionalmente, ele critica os reiterados compromissos assumidos pelos países que já se industrializaram e que têm matrizes energéticas muito piores que os países do sul global, mas não cumprem esses compromissos de investir maciçamente em transição energética. Nós temos que nos espelhar no papa Francisco, que disse de forma contundente que precisamos fazer uma transição energética para proteger o planeta das oscilações climáticas, de forma obrigatória, justa, inclusiva e equilibrada.

 

 

O Brasil está preparado para abandonar o uso do petróleo?
O próprio nome já diz: é uma transição energética, não uma mudança. O Brasil já é o líder da transição global, exatamente pela sua matriz limpa e renovável, mas também pelas políticas públicas que implementou nas últimas décadas. O maior programa do planeta de combate à pobreza energética foi lançado no primeiro mandato do presidente Lula, que é o "Luz para todos". Estamos demonstrando esses programas aqui em Davos, assim como demonstramos em Goa (no G20, na Índia) e na ONU. Todos reconhecem que o Brasil lidera a transição, mas ainda não podemos abandonar as outras fontes de energia. Nós temos que trabalhar com a realidade. A transição tem que ser justa, e para ela ser justa ela não pode custar a fome dos brasileiros. Não pode ser cobrada de um povo que já pagou por ter uma matriz energética muito limpa.

 

 

Depois de uma série de reuniões bilaterais, seminários e encontros com investidores, o que o senhor espera trazer de Davos?
Investimento internacional. Sensibilizar os países ricos para que eles possam reconhecer que quem quer fazer a inclusão na economia verde tem que produzir nos países que têm energia limpa e renovável em abundância, que é o caso do Brasil. Mostrar para o mundo que a transição energética tem que ser justa, inclusiva e obrigatória. O mundo precisa disso para se preservar do ponto de vista das oscilações climáticas. A transição não pode ter o foco exclusivamente da sustentabilidade, é imprescindível que seja assim, mas ela é uma grande oportunidade de uma mudança econômica que seja inclusiva, gerando emprego e renda e que faça com que a vida das pessoas melhores.