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Brasil passou por 12 fenômenos climáticos extremos em 2023

Relatório da ONU indica que desastres naturais são cada vez mais frequentes. Especialistas apontam descaso histórico com a natureza

10/05/2024 às 07h13
Por: Carlos ball Fonte: em
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Brasil passou por 12 fenômenos climáticos extremos em 2023

Nos últimos anos, o tempo verbal em relatórios, pesquisas e matérias jornalísticas que tratam sobre as mudanças climáticas passou do futuro para o presente. Os desastres naturais cada vez mais frequentes mostram que os impactos provocados pela exploração desordenada dos recursos do planeta já cobram seu preço. E o Brasil coleciona tragédias que evidenciam a urgência do tema.

Um exemplo dramático são as tempestades e as enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul nos últimos dias. Na última quarta-feira (8/5), a Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgou um relatório que elenca 12 eventos climáticos extremos no país em 2023. A análise de especialistas leva a crer que não se trata de um retrato de um ano atípico, mas de uma nova realidade a qual o mundo deve se acostumar, ainda que a duras penas: a era dos extremos.

O relatório para América Latina e Caribe da OMM, agência especializada da Organização das Nações Unidas (ONU), aponta que o Brasil teve cinco ondas de calor, três chuvas intensas, uma onda de frio, uma inundação, uma seca e um ciclone extratropical. Também pela extensão continental do país, os eventos dão a dimensão de que a prevenção e os reparos necessários para mitigar os efeitos dos fenômenos extremos são complexos. Há necessidade de buscar soluções para questões antagônicas: secas e enchentes, frio e calor além do habitual.

No relatório, a OMM destaca as ondas de calor que atingiram os principais centros urbanos no Sudeste do país no segundo semestre e também as altas temperaturas que provocaram estragos na Amazônia. Em julho do ano passado, a floresta tropical registrou uma das piores secas de sua história. Como reflexo da situação, em outubro, o nível do Rio Negro caiu para 12,7 metros, o mais baixo desde que observações do tipo começaram a ser feitas, em 1902. Ainda na Amazônia, as altas temperaturas provocaram eventos como a morte de mais de 150 botos cor-de-rosa no Lago Tefé, sob calor recorde de 39,1 graus Celsius. Foram cerca de 22 mil focos de incêndio na Floresta Amazônica em outubro, recorde para o mês desde 2008.

O ciclone extratropical apontado no relatório foi uma prévia das históricas chuvas que hoje deixam o Rio Grande do Sul submerso. No ano passado, tempestades com fortes rajadas de vento afetaram 340 mil gaúchos e provocaram 46 mortes, segundo a Defesa Civil do estado. As enchentes dos últimos dias estão ainda mais destrutivas, com o número de óbitos superando uma centena.

Diante do cenário de caos no Sul, o poder público se movimenta para debater o assunto no calor do momento e com décadas de atraso. Neste contexto, a Câmara dos Deputados recebeu, nesta semana, a diretora-adjunta de Políticas Públicas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Gabriela Savian. Ela enfatizou que “atípicos” pode não ser mais um adjetivo cabível para descrever fenômenos como os que hoje destroem o Rio Grande do Sul.

“Infelizmente, eventos extremos como estes serão cada vez mais recorrentes e exigem medidas urgentes de combate ao aquecimento global. As chuvas já afetaram rios de todo o estado, impactando milhares de pessoas. O desmatamento deve ser controlado e a ciência deve ser levada em consideração para a tomada de decisão nos planos de ação emergenciais decorrentes da urgência no atendimento da catástrofe do Rio Grande do Sul e demais estados, como o que vimos recentemente nos estados da Amazônia”, afirmou a pesquisadora em entrevista.

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