Uma equipe da Embrapa Florestas realizou um feito inédito na pesquisa florestal brasileira: clonar uma araucária (Araucaria angustifolia) de cerca de 700 anos que tombou durante um temporal no Paraná. A árvore, com 42 metros de altura, era considerada a maior do estado da espécie, que é um símbolo da paisagem local.
O projeto de resgate genético resultou em mudas clonadas que foram plantadas em Cruz Machado, cidade onde a planta original estava.
A clonagem de uma árvore tão antiga apresentou grandes desafios, já que a regenerabilidade de tecidos de árvores idosas é reduzida. ‘Resgatar uma araucária tão antiga e cloná-la com sucesso é uma conquista científica’, comemora o pesquisador da Embrapa Ivar Wendling.
O pesquisador conseguiu produzir quatro mudas de tronco, preservando o DNA da árvore original. Por serem oriundas de tecidos adultos, as mudas clonadas irão originar árvores de porte menor, mas que começam a produzir pinhão mais cedo do que uma árvore convencional. O pinhão, além de ser um alimento tradicional, tem valor comercial crescente.
No entanto, Wendling alerta que as mudas ainda são delicadas e requerem cuidados especiais nos primeiros anos de desenvolvimento, incluindo irrigação e controle de competidores naturais. ‘A árvore original sobreviveu por séculos, mas essas mudas precisam de atenção para que possam crescer saudáveis e continuar esse legado’, explica.
A técnica usada para a clonagem inédita foi a enxertia, que consiste em unir um fragmento da planta original a uma muda jovem. No caso da araucária clonada, logo que a árvore caiu foram coletados brotos, que foram então enxertados em mudas já estabelecidas, garantindo que o novo indivíduo possua o mesmo material genético da planta original. Esse processo permite a regeneração da árvore a partir de suas próprias células, mantendo características como resistência e produtividade.
O enxerto pode ser feito a partir de brotos do tronco ou do galho da árvore, resultando em diferentes formatos de plantas. No caso de árvores idosas, a clonagem é mais difícil devido à baixa capacidade de regeneração dos tecidos mais velhos.
O sucesso do procedimento representa um avanço na tecnologia florestal, abrindo caminho para a conservação genética de outras árvores centenárias.
O plantio das mudas ocorreu em dois locais distintos. Uma delas foi levada de volta à propriedade rural de Terezinha de Jesus Wrubleski, onde a araucária original estava.
‘Fico muito feliz de poder ter essa nova árvore aqui, como uma filha da antiga’, comemora Wrubleski. Segundo ela, a antiga araucária atraía visitantes interessados em sua imponência, e a nova muda representa uma continuação dessa história. ‘Minha família já está há mais de 70 anos nessa propriedade e a araucária era parte da nossa família. Agora, poderemos mostrar a sua ‘filha’’, conta. Outra muda foi plantada no Colégio Agrícola de Cruz Machado, em um evento com estudantes, professores e autoridades locais.
O projeto também prevê a doação de uma das mudas clonadas para o Governo do Estado do Paraná e a preservação de outra na coleção genética de araucária da Embrapa Florestas, garantindo a continuidade das pesquisas sobre a espécie. “Essa árvore tem um DNA único e precisamos estudar o que a tornou tão resistente”, conclui Wendling.
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